Como acelerar a cultura digital na cadeia de abastecimento

Por Sérgio Girão, especialista em tecnologia para atacado, distribuidor e indústria

Com larga vivência como fornecedor de serviços para a indústria e o segmento atacadista e distribuidor de bens de alto consumo (alimentos, itens de higiene pessoal e artigos de limpeza doméstica, que compõem o chamado mercado mercearil), tenho podido testemunhar as transformações tecnológicas da cadeia de abastecimento brasileira ao longo das últimas três décadas.

Essa cadeia que envolve indústria, atacado, varejo e consumidor é profundamente interdependente, e ficou claro, com as dificuldades trazidas pela pandemia, que a adoção de soluções digitais é fundamental não apenas para aumentar a eficiência, mas a própria chance de sobrevivência da cadeia como hoje conhecemos.

Sérgio Girão

Vale tomar como exemplo o segmento de bares, lanchonetes e restaurantes, o chamado food service, um dos mais impactados pela restrição de circulação de público e um importante integrante da cadeia de abastecimento. Muitos desses estabelecimentos não estavam preparados para enfrentar a crise, fecharam e não reabrirão suas portas.

Outros, no entanto, conseguiram, em tempo recorde, passar a operar com divulgação em canais digitais, vendas online e entregas por aplicativo, salvando assim o seu negócio – e ajudando a manter toda o sistema em funcionamento. Esses compreenderam a importância de ter uma operação apoiada no digital. E, obviamente, quem já vinha apostando na transformação digital antes da pandemia sofreu impacto muito menor.

A digitalização é o processo inicial, pelo qual as empresas vêm passando desde final da década de 1990, com a implantação dos ERPs e outros sistemas de controle e gestão. Mas a transformação digital vai além e requer que toda a cadeia esteja integrada, alimentando um processo que orienta de maneira muito mais precisa e ágil a tomada de decisões e levando o negócio a outro patamar.
Deve existir a troca simultânea de informações entre varejo, distribuidor, indústria, uma integração em tempo real, que permita, por exemplo, que tanto o atacado como a indústria tenham conhecimento de uma compra feita pelo consumidor no varejo, no momento em que ele passa pelo caixa.

Dentro da cadeia de abastecimento, a indústria é quem costuma estar à frente das inovações. Impactada pela concorrência de multinacionais (ou sendo ela mesma uma multinacional), é quase sempre pioneira na adoção de novas tecnologias e ferramentas de ponta.

O setor atacadista, que atua muito próximo à indústria, também se vê impelido a modernizar-se continuamente, principalmente na área logística. Há décadas a natureza das operações do atacado (dezenas de indústrias fornecedoras, centenas de clientes varejistas e milhares de produtos estocados) tornou clara a inviabilidade do trabalho sem a ajuda do computador.

No varejo, o porte da empresa faz diferença na velocidade das inovações tecnológicas. Grandes redes saem na frente e hoje comandam alguns dos principais marketplaces do país. Mas, especialmente no segmento alimentar, o pequeno e médio varejo são elos frágeis da cadeia. Muitas dessas empresas têm grande resistência a mudanças e desconfiança em relação ao compartilhamento de informações e a tudo que é feito de forma diferente da tradicional.

O DT Index 2020, estudo patrocinado pela Dell e pela Intel com mais de 4 mil empresas em todo o mundo, mostrou que só 33% das empresas brasileiras admitem ter uma cultura digital consolidada e apenas 4% possuem a transformação digital integrada ao seu DNA. O estudo abarcou empresas de médio e grande porte. A partir daí, podemos imaginar o cenário das pequenas…

Espantosamente, não é tão difícil encontrar empresas que ainda não perceberam que a tecnologia é mais do que custo ou investimento, é um diferencial competitivo estratégico. Além disso, a nova realidade é inexorável e será dura para os que não se adaptarem.

É preciso, antes de tudo, vontade de mudar. Também é necessário pensar as ferramentas de forma inteligente e integrada, garantindo o alinhamento com parceiros, fornecedores e clientes, de modo que todos os processos e fluxos possam atuar em sinergia. E, o mais importante: é preciso criar uma cultura voltada para a transformação digital. Dito de outra forma, a transformação digital deve ser precedida de uma transformação cultural.

Nesse sentido, é grande a responsabilidade dos atacadistas e também das indústrias no sentido de sensibilizar e educar o pequeno e médio varejo para possibilitar a transformação digital de uma ponta à outra da cadeia de abastecimento.

É sabido que esses fornecedores mantêm um relacionamento muito próximo desses varejos, e a partir dessa proximidade será mais fácil fazê-los entender que as novas tecnologias estão cada vez mais acessíveis e confiáveis; que é possível compartilhar dados com segurança; que o B2B já é uma realidade no setor, entendido como mais um canal de atendimento, inserido na estratégia e no plano de negócios; que novas ferramentas inteligentes voltadas às diversas áreas da empresa têm enorme poder de impulsionar os resultados.
Assim, é fundamental que o atacado distribuidor elabore estratégias e se empenhe em trazer o pequeno e médio varejo alimentar para essa nova realidade, onde a transformação digital pode abrir novas possibilidades, minimizar perdas e multiplicar ganhos, para benefício de todos.

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