Atacadão reforça caixa com recursos da matriz

Logo depois da aprovação da compra do BIG pelo Carrefour, o Atacadão, bandeira de atacarejo da rede francesa, anunciou que reforçou sua estrutura financeira com R$ 1,9 bilhão em uma linha de crédito com a controladora, por meio da subsidiária financeira Carrefour Finance. O custo da linha é de 14,25% ao ano — o equivalente a aproximadamente 110% do CDI, que hoje está em 12,75% — e o prazo é de 36 meses. O contrato ainda prevê uma taxa de 0,55% ao ano sobre o limite disponível e não utilizado, a ser pago no fim de cada trimestre.

O formato do empréstimo é o “revolving loan facility”, uma linha de capital de giro utilizada com frequência pela operação brasileira para recorrer a crédito da matriz, pelo menos desde 2016. Ao fim de março, o balanço aponta que, dentro dessa mesma linha com o Carrefour Finance, havia um saldo devedor de R$ 2,25 bilhões — recursos que foram contratados em janeiro, com uma taxa de 12% ao ano. Com a nova linha, o total sobe para mais de R$ 4 bilhões.

O montante se aproxima dos patamares registrados em 2021. O pico da dívida com a vertical financeira da matriz aconteceu no terceiro trimestre do ano passado, época em que a companhia tinha uma dívida de R$ 4,5 bilhões, a uma taxa 0,6% ao ano somada à variação cambial, com vencimento em janeiro de 2022.

Na época, o Carrefour afirmou que o aumento de alavancagem já era uma preparação da estrutura de capital para o pagamento da aquisição do BIG, uma vez que fosse aprovada pelo Cade. Agora, a coincidência entre o anúncio da linha de crédito e a aprovação da aquisição pelo órgão antitruste indica um novo reforço.

Em 2021, o Carrefour Brasil fechou o ano com alavancagem de 1,8 vezes o Ebitda, considerando uma dívida líquida média de R$ 5,9 bilhões. Dentro desse valor, a companhia já considerava duas linhas com valores disponíveis para financiamento de capital de giro e aquisição do Grupo BIG, de R$ 1,8 bilhão e 675 milhões de euros.

Para relembrar como esses valores conversam com a transação, no comunicado que anunciava a compra do BIG, o Carrefour anunciou o pagamento de R$ 7,5 bilhões pela totalidade do capital social da empresa (podendo ser desembolsado integralmente em cash quanto 70% do valor em dinheiro mais ações, ainda a ser definido com a conclusão do acordo). Antes da aprovação do órgão antitruste, o Carrefour fez o pagamento de um “sinal” R$ 900 milhões aos vendedores, que seria devolvido caso o Cade não aprovasse o acordo — o dinheiro veio de uma dívida feita nos mesmos moldes com a matriz, no primeiro trimestre de 2021.

Agora, Carrefour e BIG já podem concluir a operação. Entretanto, o deal ainda não foi finalizado por causa do cumprimento de algumas condições — não especificadas pelo Carrefour em fato relevante desta semana — previstas no contrato de compra e venda.

A ideia é que, assim que concluída a operação, o Grupo Carrefour tenha 67,7% de participação no Grupo Carrefour Brasil (ante 71,6% antes da conclusão da operação) e a Península Participações 7,2%, enquanto a Advent e o Walmart, por meio de entidades afiliadas, terão juntos 5,6% de participação.

Relembre o acordo

Na última quarta-feira, o Cade aprovou com restrições a aquisição do grupo BIG pelo maior varejista do país, em uma decisão unânime. Os pontos do órgão antitruste para que a transação seja concluída incluíram a venda de 14 lojas (11 hipermercados e 3 supermercados), o que representa 3,6% das lojas do BIG e 6% da receita do BIG em 2021. Em relatório, analistas do Itaú BBA viram os apontamentos de forma otimista, diante do potencial de ganho que os negócios combinados podem trazer. “Nós reiteramos que a transação vai desempenhar um papel essencial na consolidação do setor no Brasil e vai abrir novas avenidas de crescimento para a marca Sam’s Club no país”, afirma o documento.

Na época do anúncio da aquisição, há mais de um ano, o Carrefour Brasil indicou que o BIG pode representar uma contribuição adicional ao Ebitda de R$ 1,7 bilhão anualmente, três anos após a conclusão da operação. No fim do ano, a companhia revisou as estimativas para cima, com estimativas 15% maiores do que as iniciais, de sinergias de R$ 2 bilhões ao fim de 2025. O valor está relacionado à maior densidade de vendas (já que o BIG está em regiões onde o Carrefour tem atuação limitada, como o Nordeste e o Sul), além de aumento de margens ao transformar lojas BIG Bompreço e Maxxi em Carrefour e Atacadão.

Outro ponto defendido pela companhia de origem francesa no ato da compra foi a receita gerada a partir de serviços do Banco Carrefour nas novas lojas, além da aceleração do crescimento das ofertas digitais do Carrefour usando a base do Grupo BIG. Por fim, despesas indiretas e eficiência na cadeia de suprimentos também foram pontos defendidos para chegar ao valor apresentado.

Em 2021, o Grupo BIG registrou R$ 23,1 bilhões em receita, cifra estável em relação ao período pré-pandemia. A margem bruta teve ganho de 0,8 ponto percentual na comparação com 2019, para 25,4%. E o Ebitda da companhia aumentou significativamente ante o pré-pandemia, passando de R$ 378 milhões em 2019 para R$ 804 milhões em 2021.

São números que ajudam a completar o cenário mostrado pelo Carrefour no último ano. Em 2021, o Atacadão, com suas 252 lojas, foi responsável por R$ 3,9 bilhões dos R$ 5,7 bilhões registrados no Ebitda da companhia. A margem Ebitda da vertical foi de 7,3%, aproximadamente 2 pontos percentuais superior à do varejo.

As estimativas otimistas vão de encontro ao bom momento que o setor de atacarejo vive no Brasil, que condiz com a busca de consumidores por produtos mais baratos em meio ao cenário de inflação salgada. A rede Assaí, por exemplo, mais do que dobrou a receita nos últimos cinco anos e agora busca maneiras de atrair as classes A e B para as lojas. O foco é investimento para tornar as lojas cada vez mais “pop” e menos parecidas com galpões. Nesse plano, a companhia também comprou 71 hipermercados Extra do GPA para convertê-los em atacarejos, em um negócio de R$ 5,2 bilhões.

Fonte: Karina Souza, Exame

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