Aporte necessário

PIB

Por Adriana Bruno

Os últimos dois anos foram desafiadores para a economia nacional e 2022 ainda deve apresentar um quadro de retomada mais lenta dos negócios. E em cenários assim, muitas empresas precisaram buscar crédito para manter suas operações.

Segundo Francisco Ferreira, diretor da Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD), o mercado de crédito para pessoa jurídica no Brasil teve uma forte expansão nos últimos dois anos, impulsionada pelos programas de governo e pelo aumento da oferta por novos entrantes no mercado como fintechs e FIDCs (Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios). “Houve um aumento de cerca de 31% na carteira de crédito para pessoas jurídicas desde março de 2020. O Banco Central tem promovido o aumento da competição e diversas ações trouxeram mais alternativas de crédito para as empresas. Vale a pena destacar a nova regulação para registro de recebíveis de cartões de crédito, o advento da CCB eletrônica e o surgimento das fintechs de crédito como fatores preponderantes para este aumento na oferta”, comenta.

Mas apesar do cenário de expansão, Marco Couto, diretor Vogal do IBEVAR conta que pelo terceiro ano seguido, conforme previsão do Banco Central para 2022, a expectativa é de desaceleração do crédito. “Em 2020 houve um crescimento de 21,6% nos empréstimos para pessoas jurídicas em relação ao ano anterior. O ano de 2021 também teve um desempenho positivo, no entanto bem menor, de 9,6%”, diz. Segundo ele, a previsão para 2022 é de um crescimento ainda menor, na casa dos 6,3%. A razão é a alta das taxas de juros dos empréstimos em geral, provocada pelo aumento da Selic. Esta saltou de 2% ao ano no início de 2021 para 9,25% ao ano no início de 2022. “Com o aumento da taxa de juros a concessão de crédito se torna mais cara dificultando o acesso das empresas. Em especial aquelas com dificuldades financeiras. Nesse contexto o cenário para a concessão de crédito no Brasil hoje não é positivo. Mais causado pelos efeitos da alta da taxa de juros e menor capacidade das empresas de contraírem dívidas, do que da disponibilidade de recursos existentes nos bancos”, avalia.

A busca por crédito é sempre uma decisão importante para as empresas, seja para ampliação dos negócios, aumento do estoque, compra de equipamentos ou contratação de pessoas. “Para isso é importante avaliar o momento e objetivos da empresa. O ideal é contar com um planejamento financeiro e avaliar as opções de acesso ao crédito. Instituições financeiras focadas em empresas tendem a oferecer melhores soluções e experiências de acordo com a necessidade de cada negócio”, diz Maryellen Denardi, gerente executiva de crédito do Banco BS2.

Ainda segundo Maryellen, o segmento atacadista passa por um momento bastante intenso. Desde a pandemia, novos formatos de operação e logística ganharam relevância para suprir a alta demanda observada. “Nessa corrida, vence aquele que consegue otimizar sua cadeia de suprimentos e garantir aderência e velocidade na entrega ao mercado consumidor. Nesse contexto, as linhas de crédito para o setor propõem as seguintes máximas: gestão eficiente de capital de giro e fluxo de caixa, viabilidade de melhores compras junto a cadeia de fornecedores e, por fim, expansão de negócios e linhas de receita”, conta.

Critérios

Não só no cenário atual, mas em qualquer situação, o empreendedor tem de entender que crédito é dívida, ou seja, deve ser paga no futuro. Por isso é muito importante considerar a real necessidade do crédito, se não há uma alternativa dentro do próprio negócio, como fazer uma promoção, reduzir custos, entre outros. “Uma vez que se decida pelo crédito é primordial fazer um cálculo se o fluxo de caixa da empresa suporta o valor da prestação que está sendo assumida. Muitas vezes os empreendedores levam em conta apenas o valor total do financiamento e não consideram se o negócio gera caixa suficiente para pagar os compromissos já assumidos e as prestações do crédito”, orienta Adalberto Luiz, analista do Sebrae Nacional. Ele ainda diz que crédito faz parte do planejamento financeiro da empresa. Portanto, antes de pensar na linha de crédito adequada é necessário identificar onde o dinheiro do crédito será utilizado. Se é para compra de mercadoria para revenda, as alternativas para capital de giro ou antecipação de recebíveis são as mais adequadas. “Se a intenção é fazer uma reforma, ampliar a área de estoque ou modernizar as instalações, o mais recomendado é buscar linhas de investimento que possuem prazos de carência mais elásticos e pagamento em mais parcelas, o que dá fôlego ao fluxo de caixa da empresa até o início do pagamento das prestações”, diz.

Ou seja, os fatores a serem considerados antes da contratação do crédito são a capacidade de pagamento e o custo do financiamento.” No cenário atual de taxas de juros altas, a contratação de novos créditos pode reduzir consideravelmente a margem de lucro das empresas. A médio prazo isto representa um alto risco pois o lucro é a fonte de geração de caixa para novos investimentos e uma reserva frente aos imprevistos”, alerta Couto. Por outro lado, segundo ele, deve-se sempre comparar as alternativas de financiamento e escolher a de mais baixa taxa de juros e prazo mais longo de pagamento. “Para uso do dinheiro a longo prazo, como por exemplo investimentos em ativos fixos, outra alternativa no lugar da dívida, e que evita as altas taxas de juros, é novo aporte de recursos por parte dos sócios. Quanto à capacidade de pagamento é necessário monitorar o orçamento da empresa, para verificação se há margem para novas assunções de dívida”, diz.

Ao falar sobre a análise e os critérios a serem considerados antes da tomada de crédito, é importante entender a necessidade do recurso. “Como boa regra geral, necessidades de curto prazo demandam crédito de curto prazo, enquanto necessidades de longo prazo deveriam ser supridas por créditos de longo prazo”, comenta Leandro Sanabio, CEO do BAVA. “No momento da tomada de decisão, é essencial escolher os parceiros certos. Buscar quem entende a realidade do mercado e pode agregar valor ao negócio é importante. Não basta buscar bancos com muito capital, produtos de prateleira ou preços aparentemente menores. Cada vez mais, as parcerias de longo prazo, o entendimento do mercado e tendências, somados a soluções especializadas para o segmento e integradas a jornada do distribuidor possibilitam um processo crédito saudável e perene. Dessa forma, todas as peças da cadeia se beneficiam”, avalia.
Ainda é preciso ressaltar que o custo final da linha de crédito deve ser sempre avaliado. “Por isso que necessidades pontuais e emergenciais acabam sempre sendo mais difíceis e custosas. O segredo é sempre estudar bastante suas opções e não ter medo em apostar em empresas que usam a tecnologia e a inovação dentro do mercado financeiro”, comenta Francisco Pereira, CEO da Trademaster.

Leia a reportagem completa e tenha acesso a todo conteúdo da edição de março da revista Distribuição através da DB Online.

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